quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Valsa escarlate.

     Fechados estavam os seus olhos.Ela já não queria mais ver.Em seus lábios restavam as últimas gotas de vinho.O relógio quebrado não mais contava o tempo.A atmosfera daquele lugar cheirava a morte.Não se sabia ao certo a quantos dias o sol não entrava naquele quarto,agora frio e sombrio.
     Lembranças e dor se misturam.Lágrimas se uniam ao sangue formando um misto de tristes líquidos.Ela gostaria que ele estivesse ali segurando suas mãos que pouco a pouco iam ficando cada vez mais fria.Mas ele nunca esteve onde deveria estar.
      Olhá-lo por uma última vez era seu maior desejo naquele momento.Seu grande e único desejo...mas um dos que nunca foram e seriam realizados.Já não restava muito tempo.
      Abriu os olhos.Não eram estas as últimas imagens que ela queria ter na mente.Lágrimas rolavam em sua face morrendo em seus lábios trêmulos.O passado estava tão presente ali.E o presente era tudo o que ela lutava  pra esquecer.Sempre lutou.Olhou-se no espelho pela última vez e se deparou com um fantasma de uma garota que havia morrido aos poucos,sem que ninguém notasse nada.As pessoas são mesmo cegas para o que deveriam ver. Sozinha como sempre viveu,morreria ela.Sozinha por toda uma vida e agora talvez por toda a eternidade.Nem mesmo ela sabia qual era o seu destino após o fim.
      Ela olhou para a foto dele.E tocou seu rosto o manchando de sangue.Sorrio ainda que chorando.Tentou falar,suspiros saíram de sua boca até que pode-se ouvir claramente suas últimas palavras: "Sangue e fogo.Amor e dor.Perdi-me nos labirintos da tua alma ao te olhar nos olhos aquela tarde até que a morte me encontrou ".E essas foram suas últimas palavras,talvez fruto de um poema ou poesia qualquer que compôs em um momento de grande tristeza ,sua maior fonte de inspiração ou talvez uma tentativa de expressar o que sentia uma última vez,até que o peso da morte lhe caísse sobre os olhos.
     Ela estava morta.A taça caiu de sua mão esquerda.E agora valsavam os pedacinhos de cristal junto aos pedacinhos de seu coração,sobre o resto de vinho e o sangue que há alguns minutos atrás corria em suas veias e agora não passava de uma mancha vermelha naquele chão.

                            Mariana Cavalcanti.